sexta-feira, 15 de abril de 2011

CANTO GREGORIANO

Domingo -17 de Abril





  • Concerto Coral do nosso grupo de Canto Gregoriano, juntamente com o grupo Coral do Cercal e o Chorus Auris.


Sé Colegiada de Ourém, às 18,30 horas.





terça-feira, 12 de abril de 2011

E a USO foi a Barcelona

3 de Abril de 2011

Olhámos o desfiladeiro uma última vez, a partir do mosteiro de Monserrate. Rompera um sol débil, com saudades do esplendor do dia anterior.
Despedimo-nos do alto da montanha sagrada alongando a vista para os lados do mar e de Barcelona e assim fomos serpenteando estrada abaixo, num emara¬nhado de curvas e contracurvas desdobrando-se sobre as encostas alcantiladas.
À medida que nos aproximávamos da capital da Catalunha, escureceram os céus e caíram incertas gotas de chuva no pára-brisas do autocarro. Felizmente foi chuva de pouca dura. Entrámos por noroeste, pela Avenida Diagonal e aí recebemos a guia catalã, Montserrat, que nos aguardava há mais de uma hora.
Com a sua experiência e sensatez, as várias visitas ao longo do dia decor¬reram com eficiência e bom planeamento. O que parecia difícil, perante a quase excessiva riqueza arquitectónica e cultural de tão espantosa cidade.
Iniciámos com uma breve entrada no parque Güell, onde o arquitecto Antoni Gaudí deu largas à sua criatividade e imaginação. Descemos ao bairro gótico onde se situa a catedral, à zona do porto de mar e à cidade olímpica, subimos ao passeio da Gràcia e, finalmente, atingimos o auge da nossa ida a Barcelona: a igreja da Sagrada Família, obra a que Gaudí dedicou a maior parte da sua vida e que ainda se continua a construir, com um ritmo de 80 trabalhadores diários!
Subimos mais tarde ao alto de Monjuïc, donde pudemos observar uma outra vista panorâmica de Barcelona e terminámos o dia calcorreando as famigeradas Ram¬blas, passeio amplo que se prolonga entre a praça da Catalunha e a praça da Paz dominada pela estátua de Cristóvão Colombo. No fim ainda houve tempo para uma libação nos Quatre Gats, um bar de estilo arte nova, muito frequentado pelo grande Picasso.
Resumamos, destacando cada visita.

O parque Güell.
Na colaboração entre o senhor Güell e Gaudí, o industrial propôs ao arquitecto a urbanização dum jardim com um novo conceito: um condomínio de luxo, com zonas comuns e casas privadas. Dos lotes apenas se vendeu um, que permanece hoje a única casa particular. Todo o restante parque é agora de domínio público a cargo do município barcelonês.
Distinguimos a casa-museu de Gaudí, onde este viveu durante os últimos vinte anos da sua vida, a esplanada ladeada por um banco policromático e recurvado, sobre o que seria o mercado comum do condomínio e é hoje uma sala hipóstila com 86 colunas dóricas ocas, que recolheriam a água da chuva para uma cisterna inferior.
Por uma larga escadaria se desce hoje até à entrada do parque, ladeada por duas casas que parecem criação da Disney e onde dominam um lagarto recoberto de pedaços de cerâmica multicolorida e a cabeça de uma serpente donde escorre a água de uma fonte.
Por todo o jardim pulula uma vegetação luxuriante enredada entre colunas de formas vegetais, caminhos múltiplos, escadarias rudes e orgânicas.

A catedral.
Iniciada ainda no século XIII, esta catedral apenas se concluiu no século XIX, embora conforme os planos iniciais góticos. Durante a construção foi-se substituindo à anterior igreja românica, operação difícil, pois não se interrompeu o culto. Foi construída dentro das antigas muralhas da Barcino romana.
Na cripta, sob a ábside, encontra-se o túmulo de Santa Eulália, de alabastro, a santa padroeira da catedral, sacrificada no século III.
As naves, tendo todas a mesma altura, fazem desta igreja uma igreja-salão. As abóbadas são de cruzaria de ogivas e as naves laterais prolongam-se em espaçoso deambulatório à volta do altar-mor.
O claustro, grandioso, rodeia um jardim com elevado arvoredo e fontanário, onde se passeiam treze gansos. O número treze reporta-se à idade de santa Eulália quando morreu.
Num dos ângulos do claustro eleva-se a capela de santa Lúcia, curiosa construção da transição entre o românico e o gótico primitivo.
Como era domingo, a praça diante da catedral regurgitava de gente a bailar as sardanas. Foi então que alguns corajosos elementos da Universidade Sénior ainda deram o tal pezinho de dança, dançando a típica sardana, em círculos de bailadores de mãos dadas.

A Barcino romana (bairro gótico).
Barcino foi o nome romano da cidade, que exportava garum (condimento de luxo à base de vísceras de peixe, ervas e sal) e vinho, para todo o império. Ao lado poente da catedral corria um dos eixos da cidade, o decumanus, que, como habitualmente nas cidades romanas, atravessava o fórum, no local em que se cruzava perpendicularmente com o outro eixo, o cardo. Hoje, nesse local, estão o palácio do governo autónomo da Catalunha e o edifício municipal de Barcelona.
Da entrada do decumanus ainda subsistem as duas torres que a franqueavam. Defronte eleva-se o edifício da ordem dos arquitectos da Catalunha, onde pontificam desenhos do próprio Picasso.

O passeio de Gràcia.
Desta vez só houve tempo para o atravessarmos de autocarro, o que foi pena: é aqui que se localizam as mais famosas casas de arquitectura de arte nova de Barcelona. Do grande Antoni Gaudí, a casa Milà e a casa Batlló, espantosas criações orgânicas com soluções de integração urbanística invulgares. De Domènech i Montaner a Casa Lleó Morera, de Puig i Cadafalch a Casa Amatller. E há mais.
Trata-se de uma sucessão tão concentrada de arte nova que tal quarteirão se apelida de “manzana de la discòrdia”, pelo choque que então provocou com os cânones artísticos anteriores.
Barcelona é absolutamente a cidade de eleição para o estudo desse período entre o século XIX e o XX. É a cidade de Gaudí, como este é o arquitecto de Barcelona.

A Sagrada Família.
Ficamos sem palavras, perante esta obra de Gaudí. Com um projecto inicial neogótico do arquitecto Francesc de Paula Villar, a cripta foi respeitada por Gaudí, mas todo o projecto posterior foi reorganizado através do seu génio quase louco, por invulgar.
Este templo é gótico? Barroco? Arte Nova? Simbolista? Futurista? É tudo isso e muito mais.
O próprio Gaudí desenhou as esculturas da fachada do Nascimento e acompanhou a sua execução por outros escultores. Desenvolve-se em três grandes formas triangulares que representam as virtudes teologais: Fé, Esperança e Caridade, cada uma dedicada a Jesus, Maria e José, a sagrada família. Ao alto surge a árvore da vida, revestida de cerâmica verde, onde esvoaçam pombas de mármore branco (que eram inicialmente de alabastro, mas foram deterioradas pela brisa marítima).
Após a construção deste portal, em 1926, o maravilhoso arquitecto, tendo sido atropelado por um carro eléctrico, morreu dois dias depois. A construção foi interrompida com a guerra civil em 1936 e os seus planos destruídos.
Só em 1950 se decidiu continuar esta igreja. Porém, as discussões e polémicas têm sido constantes. Seria melhor deixá-la inacabada, como memorial ao génio de Gaudí? Ou preferiria ele que se continuasse com o espírito das épocas posteriores?
Efectivamente o próprio Gaudí terá dito que se o estilo gótico continuasse a evoluir ao longo dos tempos e das novas técnicas e materiais certamente esta seria a igreja da evolução natural daquele estilo.
No interior, as abóbadas orgânicas, fitomórficas como as colunas, num rendilhado estranho, os vitrais, o baldaquino (desenhado a partir do outro de Maiorca que fora debuxado por Gaudí) as torres, tudo nos atira para o alto, à semelhança das medievais catedrais góticas. Notável é que o estudo das plantas e a forma inovadora como Gaudí concebeu a estrutura tornou desnecessários os arcobotantes exteriores a descarregar o peso das abóbadas.
A fachada ocidental, da Paixão, ainda inacabada, pormenoriza planos da paixão e morte de Cristo. Por tudo isto se disse que esta Sagrada Família era uma “Bíblia em pedra”, tal a carga simbólica e religiosa que transporta.
A fachada sul não está ainda construída. Faltam também várias torres, a maior das quais, sobre o cruzeiro, atingirá perto de 180 metros! Calcula-se que a igreja não estará terminada antes 2035. Mas o Papa já a consagrou em Dezembro de 2010.

Monjuïc.
Este monte forneceu durante séculos a pedra para inúmeras construções de Barcelona. Actualmente constitui excelente miradouro sobre a cidade e o seu porto. E aí se encontram o Pueblo Espanyol, a Caixa Fórum, o Estádio Olímpico, o Museu da Arte da Catalunha...


Obs.: Numa próxima deslocação a Barcelona poderemos entrar em vários museus (Dali, Picasso, Tàpies, Miró, Arte Contemporânea, etc.), no palácio da música catalã... e eventualmente dar um pezinho de dança na Danzatoria ou no Antilla Barcelona Latin Club.
E termino com uma palavra de elogio à organização da agência Verde Pino e à enorme eficiência e qualidade da guia que nos acompanhou, a Carla, que até se viu forçada a resolver uma série de berbicachos inesperados: foi segura, calma, simpática e competente.

Ourém, 11 de Abril de 2011

J. Sousa Dias

domingo, 10 de abril de 2011

VISITA A BARCELONA E MONSERRATE

2 de Abril de 2011

Vai para 50 anos, das alturas do “Tibidabo” avistei, pela vez primeira, as escarpas de Monserrate. Tempos depois regressei a Barcelona. Mas só agora integrado na Universidade, pude finalmente visitar Monserrate. Feliz ideia!
Para o leitor que não conhece ainda Barcelona, dir-lhe-ei, em síntese, que se trata duma cidade tipicamente ibérica. O nome deriva de “Barcino” do tempo dos colonizadores romanos.
Carlos Magno fez desta cidade uma “marca” defensiva contra as hostes muçulmanas, elevando-a à categoria de “Cidade Condal”. E a idade de ouro de Barcelona foi, unida com Aragão, após o séc. XII. Decaiu depois do séc. XVI, com a descoberta da América, quando os Reis Católicos deslocaram, para Sevilha e Cádis, o eixo marítimo de Espanha.
Após a 2ª República espanhola, em 1931, Barcelona vê ressurgir o estatuto de autonomia, atingindo um ritmo de prosperidade sem precedentes. Hoje conta três milhões de habitantes.
*

Partimos de Ourém no sábado, 2 de Abril, era ainda madrugada, e do aeroporto de Lisboa seguimos para Barcelona, onde aterrámos pelo meio-dia. A troca de uma mala reteve-nos por alguns momentos. Mas rapidamente pudemos galgar os 50 quilómetros que nos separavam de Monserrate.
Por vales e colinas contornámos a montanha pelo noroeste. Tudo foi demasiado rápido para tão grande beleza que colhíamos, deslumbrados, montanha fora, observando à nossa direita os pináculos dentados da serra, e, à esquerda, os espaços abismais perante uma paisagem colossal em direcção aos Pirenéus, com os picos nevados das montanhas para as bandas do principado de Andorra, ou em direcção às costas de Gerona e Perpinhão, já em território francês.
Pouquíssimas vezes nossos olhos terão contemplado assim paisagens tão soberbas!

Em Monserrate

Estamos agora na base do mosteiro e basílica beneditina de Monserrate. Observamos de relance todo o perímetro com os hotéis e albergues, os museus e passeios públicos, tudo devidamente aprimorado para satisfazer as exigências dos fruidores da arte e da beleza, aliadas aos caprichos da Natureza.
Simplesmente magnífico era quanto caía debaixo do nosso olhar no conjunto abismal, a perder de vista. Não errarei muito se disser que poucos acreditavam exactamente aonde estávamos!
Embriagados assim por tal ambiente, mal chegámos a saborear o almoço bem regado com um “tinto” da região (“Terra Nostra”). Não sabíamos, de facto, ali, o que seria melhor para nós: se o alimento do corpo, se o alimento do espírito, - tal a riqueza envolvente que nos seduzia.
Decisivamente optámos mais por esta, não descurando aquela. E assim deambulámos, tarde fora, explorando a floresta ou admirando as maravilhas realizadas pelos artistas e técnicos espanhóis, após a passagem destruidora das tropas napoleónicas, em 1812.
(Deixemos, porém, tal página devastadora, pois também a conhecemos em Ourém, com a passagem sinistra dos franceses, em 1810-11…)
Uma visita ao Museu de Pintura da Catalunha, fez-nos então quedar, boquiabertos, perante pinturas primorosas de artistas célebres como Caravaggio, com um “São Jerónimo”, ou Picasso, com seu “Pescador” – uma obra juvenil, dos 14 anos, deveras impressionante.

Vésperas e Laudes

Momento significativo foi, na hora própria, a assistência ao canto de «Vésperas» pelas vozes melodiosas das cinco dezenas de monges que, diariamente, continuam na Basílica, a entoar pelas tardes, com a presença dos fiéis e turistas interessados, como era o caso da Universidade de Ourém.
Em seguida, também passámos pelo trono da «Virgem Negra», subindo por detrás da capela-mor. Tudo realizado a preceito, condizendo com a magnitude do momento.
O jantar foi servido depois no hotel Cisneros, ao lado da comunidade beneditina, onde também pernoitámos “colados” à rocha abrupta da montanha. Um breve passeio nocturno deu azo para alguns contemplarem a iluminação através das cidades limítrofes, saboreando o silêncio contido da montanha, até cada um de nós recolher aos braços de Morfeu, pois era notório o cansaço.
Cedinho, o canto da passarada veio despertar-nos. Pudemos então envolver-nos ainda pelos trilhos da montanha, saudando desta feita o Abade Oliva, - o fundador do mosteiro no século XI. Agora aqui, num bronze expressivo, é uma homenagem realizada nas últimas décadas pela comunidade catalã.
Cedo também pudemos assistir ao canto de «Laudes» na referida basílica do mosteiro, onde a entoação do “Pai Nosso” pelos beneditinos, no final, nos ofereceu uma das melodias mais deliciosas que algum dia escutámos. Ninguém pode imaginar!
Já com o pequeno-almoço reconfortante e as últimas fotos e recordações na bagagem, começámos a descida serpenteada para o vale de Llobregat, a escassos quilómetros de Manresa – a cidadezinha sacrossanta, onde o fundador da Companhia de Jesus (Santo Inácio) pôde compor os celebrados “Exercícios Espirituais”, antes de rumar a Paris e depois a Roma, para convencer o Papa a reconhecer a sua Ordem.
Concluindo: todos usufruímos - cada qual a seu modo, - de uma tarde e de um serão inolvidáveis, com o alvorecer, igualmente, admirável e único!

A. Rodrigues Baptista