domingo, 10 de abril de 2011

VISITA A BARCELONA E MONSERRATE

2 de Abril de 2011

Vai para 50 anos, das alturas do “Tibidabo” avistei, pela vez primeira, as escarpas de Monserrate. Tempos depois regressei a Barcelona. Mas só agora integrado na Universidade, pude finalmente visitar Monserrate. Feliz ideia!
Para o leitor que não conhece ainda Barcelona, dir-lhe-ei, em síntese, que se trata duma cidade tipicamente ibérica. O nome deriva de “Barcino” do tempo dos colonizadores romanos.
Carlos Magno fez desta cidade uma “marca” defensiva contra as hostes muçulmanas, elevando-a à categoria de “Cidade Condal”. E a idade de ouro de Barcelona foi, unida com Aragão, após o séc. XII. Decaiu depois do séc. XVI, com a descoberta da América, quando os Reis Católicos deslocaram, para Sevilha e Cádis, o eixo marítimo de Espanha.
Após a 2ª República espanhola, em 1931, Barcelona vê ressurgir o estatuto de autonomia, atingindo um ritmo de prosperidade sem precedentes. Hoje conta três milhões de habitantes.
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Partimos de Ourém no sábado, 2 de Abril, era ainda madrugada, e do aeroporto de Lisboa seguimos para Barcelona, onde aterrámos pelo meio-dia. A troca de uma mala reteve-nos por alguns momentos. Mas rapidamente pudemos galgar os 50 quilómetros que nos separavam de Monserrate.
Por vales e colinas contornámos a montanha pelo noroeste. Tudo foi demasiado rápido para tão grande beleza que colhíamos, deslumbrados, montanha fora, observando à nossa direita os pináculos dentados da serra, e, à esquerda, os espaços abismais perante uma paisagem colossal em direcção aos Pirenéus, com os picos nevados das montanhas para as bandas do principado de Andorra, ou em direcção às costas de Gerona e Perpinhão, já em território francês.
Pouquíssimas vezes nossos olhos terão contemplado assim paisagens tão soberbas!

Em Monserrate

Estamos agora na base do mosteiro e basílica beneditina de Monserrate. Observamos de relance todo o perímetro com os hotéis e albergues, os museus e passeios públicos, tudo devidamente aprimorado para satisfazer as exigências dos fruidores da arte e da beleza, aliadas aos caprichos da Natureza.
Simplesmente magnífico era quanto caía debaixo do nosso olhar no conjunto abismal, a perder de vista. Não errarei muito se disser que poucos acreditavam exactamente aonde estávamos!
Embriagados assim por tal ambiente, mal chegámos a saborear o almoço bem regado com um “tinto” da região (“Terra Nostra”). Não sabíamos, de facto, ali, o que seria melhor para nós: se o alimento do corpo, se o alimento do espírito, - tal a riqueza envolvente que nos seduzia.
Decisivamente optámos mais por esta, não descurando aquela. E assim deambulámos, tarde fora, explorando a floresta ou admirando as maravilhas realizadas pelos artistas e técnicos espanhóis, após a passagem destruidora das tropas napoleónicas, em 1812.
(Deixemos, porém, tal página devastadora, pois também a conhecemos em Ourém, com a passagem sinistra dos franceses, em 1810-11…)
Uma visita ao Museu de Pintura da Catalunha, fez-nos então quedar, boquiabertos, perante pinturas primorosas de artistas célebres como Caravaggio, com um “São Jerónimo”, ou Picasso, com seu “Pescador” – uma obra juvenil, dos 14 anos, deveras impressionante.

Vésperas e Laudes

Momento significativo foi, na hora própria, a assistência ao canto de «Vésperas» pelas vozes melodiosas das cinco dezenas de monges que, diariamente, continuam na Basílica, a entoar pelas tardes, com a presença dos fiéis e turistas interessados, como era o caso da Universidade de Ourém.
Em seguida, também passámos pelo trono da «Virgem Negra», subindo por detrás da capela-mor. Tudo realizado a preceito, condizendo com a magnitude do momento.
O jantar foi servido depois no hotel Cisneros, ao lado da comunidade beneditina, onde também pernoitámos “colados” à rocha abrupta da montanha. Um breve passeio nocturno deu azo para alguns contemplarem a iluminação através das cidades limítrofes, saboreando o silêncio contido da montanha, até cada um de nós recolher aos braços de Morfeu, pois era notório o cansaço.
Cedinho, o canto da passarada veio despertar-nos. Pudemos então envolver-nos ainda pelos trilhos da montanha, saudando desta feita o Abade Oliva, - o fundador do mosteiro no século XI. Agora aqui, num bronze expressivo, é uma homenagem realizada nas últimas décadas pela comunidade catalã.
Cedo também pudemos assistir ao canto de «Laudes» na referida basílica do mosteiro, onde a entoação do “Pai Nosso” pelos beneditinos, no final, nos ofereceu uma das melodias mais deliciosas que algum dia escutámos. Ninguém pode imaginar!
Já com o pequeno-almoço reconfortante e as últimas fotos e recordações na bagagem, começámos a descida serpenteada para o vale de Llobregat, a escassos quilómetros de Manresa – a cidadezinha sacrossanta, onde o fundador da Companhia de Jesus (Santo Inácio) pôde compor os celebrados “Exercícios Espirituais”, antes de rumar a Paris e depois a Roma, para convencer o Papa a reconhecer a sua Ordem.
Concluindo: todos usufruímos - cada qual a seu modo, - de uma tarde e de um serão inolvidáveis, com o alvorecer, igualmente, admirável e único!

A. Rodrigues Baptista

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