sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Quando a USO foi passear a 22 de Janeiro







1. Fátima: a igreja da Santíssima Trindade

Acordara agreste aquele sábado frio de Janeiro, malgrado o sol que refulgia.
O grupo de resistentes de História da Arte aportou a Fátima lá pelas 9.30 da manhã, acompanhado pelo arquitecto Tiago Santos, da Câmara Municipal de Ourém, que gentilmente se predispusera a tal. E em boa hora o fez, pois assim enriqueceu a visita com a sua competência e os seus abalizados conhecimentos, ao longo de todo o dia.
Logo à entrada da Igreja da Santíssima Trindade (no espaço correspondente ao nártex dos templos gregos), o jovem arquitecto chamou a atenção para o material revestindo as paredes, o qual permite que as condições acústicas sejam óptimas, ao absorver qualquer reflexo sonoro. Alguém logo confirmou que uma vez tinha faltado a energia eléctrica durante uma liturgia no interior da igreja, mas a voz do celebrante tinha continuado a ouvir-se, embora mais fraca, apesar de o espaço ser tão descomunal que permite que mais de oito mil e quinhentas pessoas participem sentadas.
E o espantoso é que, sendo gigantesco, o interior não nos esmaga. Não há degraus, não há um pilar, pelo que de todo o lado se vê perfeitamente o altar-mor. E o grande mosaico horizontal e curvo que o enquadra enche de doirada luz todo o recinto.
Este painel, com 10 metros de alto por 50 metros (!) de largura é da autoria de um artista esloveno (Marko Rupnik) e foi realizado por oito artistas oriundos de oito nações e várias igrejas cristãs. Um mosaico ecuménico, portanto.
Um Cristo crucificado, enorme, de bronze, suspenso diante do Cordeiro ao centro do painel, parece abraçar quem ali chega. Obra de arte da escultora irlandesa Catherine Green, provoca acesa emoção: será feio ou bonito? Será caucasiano ou ameríndio? Ou será a humanidade toda?
O mosaico representa a Virgem com os pastorinhos à direita do Cordeiro (nossa esquerda) e S. João Baptista à esquerda (nossa direita), vendo-se ainda, dos dois lados, os apóstolos e vários santos e arcanjos.
Construída entre 2004 e 2007, esta igreja circular com 125 metros de diâmetro foi projectada pelo arquitecto grego Alexandros Tombazis e é encimada por duas vigas descomunais que suportam todo o tecto, onde a luz, constante, se encontra controlada por computador.
Destacamos ainda a porta principal, de bronze, da autoria do escultor português Pedro Calapez. Junto ao altar-mor sorri para a assistência uma imagem da Virgem, de mármore de Carrara, esculpida pelo italiano Benedetto Pietrogrande.
Da zona da Reconciliação, salientamos os azulejos com desenhos do nosso Siza Vieira, os dois espelhos água e as cinco capelas, além duma área de exposições.
Na área envolvente da igreja, emergem várias estátuas e uma cruz com 34 metros de altura, também polémico, de aço, da autoria do alemão Robert Schad.

2. Batalha: o convento

Obra do final do século XIV e início do XV, corresponde ao gótico flamejante do último período. Nas Capelas Imperfeitas (assim denominadas não por serem “imperfeitas”, mas por serem “inacabadas”) deixa já a sua marca o Renascimento, na varanda que encima o pórtico, configurando este uma obra insuperável de maravilhoso rendilhado manuelino.
Nestas capelas jaz apenas o rei D. Duarte com sua mulher, em túmulo nobre, uma vez que fora ele quem decidira a construção destas capelas. Mas os seus irmãos e os seus pais, D. João I e Filipa de Lencastre, repousam em túmulo grandioso na extraordinária Capela do Fundador, logo à direita da entrada principal da igreja.
O convento da Batalha, construído em memória da batalha de 1385 que recebeu impropriamente o nome de “batalha de Aljubarrota”, acabou por ser construído sob a direcção sucessiva de vários mestres arquitectos.
Resumindo este lindíssimo monumento, importa ainda fazer referência à sala do Capítulo (onde se encontra o monumento ao soldado desconhecido), aos claustros e aos vitrais que atingem elevado grau de arte, na ábside e na sala do Capítulo, precisamente.

3. S. Jorge: o peixe

Chegara entretanto a hora do almoço.
Com reserva feita antecipadamente, a churrascaria Reis apresentou robalo, nessa madrugada pescado no mar da Nazaré.
Faltam-nos as palavras para caracterizar aquele peixe fresco, subli¬me e tão bem grelhado.
O generoso vinho daquelas encostas acompanhou bem, a salada estava invulgarmente bem temperada e a sobremesa foi quase, literalmente, a “cereja em cima do bolo”: é que até tivemos direito a cerejas doces (do Chile, creio eu).

4. Alcobaça: o mosteiro

Tivemos que nos apressar, para aproveitar a dourada luz daquela gélida e linda tarde de inverno. Descemos então ao pomar de Portugal, Alcobaça, com o objectivo de olhar o gótico singelo do primeiro período, ainda com marcas do românico (nos merlões, ameias e contrafortes).
Da fachada original, só o portal de arco quebrado se conserva: o terramoto de Lisboa, do século XVIII, forçou a reconstrução segundo as normas da pesada construção barroca.
Alcobaça influenciou profundamente toda a primeira dinastia. Por ali passaram os primeiros reis e os abades de Alcobaça foram confidentes e conselheiros de reis.
Iniciada em 1178, a construção desta abadia segue os cânones de construção da abadia do Claraval (Ordem de Cister).
Igreja de três naves, as laterais prolongam-se na charola ou deambulatório, que rodeia o altar-mor. O portal manuelino-renascentista da sacristia merece referência especial.
No transepto, dominam os túmulos, de fina talha gótica, de D. Pedro I e de D. Inês de Castro, cujos amores foram tão contrariados e tão celebrados na poesia e no drama. Aos lados do túmulo de D. Pedro, situam-se, a nascente, um altar com retábulo de terracota dedicado a S. Bernardo e, a poente, um pequeno panteão com alguns túmulos da primeira dinastia.
Visitámos ainda o claustro de D. Dinis, subimos ao dormitório, observámos os primeiros arcobotantes de Portugal, descemos à cozinha do mosteiro (obra do séc. XVIII, onde passa um desvio do rio Alcoa), à adega e ao refeitório dos monges cistercienses de Alcobaça.

5. Os doces conventuais

Ir a Alcobaça, sem degustar a ginjinha e os doces conventuais... seria pecado. Por isso aceitámos o doce desafio.
Com o requinte daquelas iguarias deliciosas, aquele desafio quase nos fez cair no pecado da gula. Mnhammm.
E imediatamente nasceu a dúvida entre os ourienses presentes: qual a melhor ginjinha, aquela... ou as ginjinhas dos nossos castelos?
O sol descia já, para o seu sono nocturno. Era a hora do regresso até à sombra dos castelos de Ourém.

Ourém, 16 de Fevereiro de 2011

J. Sousa Dias

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